Tuesday, November 16, 2010

Cinco anos depois

O sítio PicoDoPetroleo.net está no ar há já mais de cinco anos. Este tempo volvido e a associação das palavras pico e petróelo já não parece fortuita. Os média já não as tomam como produto de um qualquer grupo de pensadores marginais, desligados da realidade. Não, o Pico do Petróleo é hoje algo de que, mesmo discordando da sua eminência, se pode falar abertamente sem receio da classificação de catastrofista.

Há ainda a relutância das entidades oficiais em falar abertamente do assunto, em parte porque não têm grande solução para oferecer, em parte por recearem espalhar o pânico. É o exemplo da Agência Internacional de Energia (AIE), que no último número da sua publicação anual “Perspectiva Energética Mundial” (World Energy Outlook) escreve por um lado que não há pico do petróleo no horizonte, mas por outro apresenta números que mostram a sua inevitabilidade a curto prazo. O garante do cenário de crescimento da AIE é uma fatia de produção a que é dado o elucidativo nome de “por descobrir”, mas que daqui por duas décadas é suposto estar a produzir tanto quanto hoje o faz a Arábia Saudita. A essa fatia acresce ainda outra, os campos “por desenvolver” que deverão no seu conjunto ultrapassar a bitola saudita.



Gato escondido com o rabo de fora, mas hoje felizmente há já muita gente instruída o suficiente para desenterrar o gato pelos seus meios. É esta a principal mudança que se deu nestes últimos cinco anos.

Estamos hoje, em 2010, a viver a época do pico. A produção mundial de petróleo bruto está estagnada há quase seis anos e não deverá modificar-se muito nos anos que se seguem. Algures na próxima década tornar-se-á impossível manter o nível de produção actual passando-se então ao inevitável e irreversível declínio. As consequências já aí estão, com a progressiva redução do volume de petróleo transaccionado internacionalmente desde 2005.

Por ora a vida ainda não mudou muito, em especial para quem ainda conserva o seu emprego, os confortos e comodidades a que havia acesso em 2005 estão ainda em grande medida disponíveis. Mas quer por acção da recessão económica, pelo aumento do desemprego, pelo endividamento soberano, o acesso a bens e serviços será progressivamente mais difícil, em especial áqueles importados. Os problemas que hoje vive Portugal são parte de toda uma dinâmica de transferência de riqueza da OCDE para outras nações que detêm ainda os recursos naturais essenciais ao funcionamento da Economia, em especial os combustíveis fósseis.

É esta última constatação que falta fazer, quer por parte da opinião pública quer por parte dos poderes executivos na OCDE. Falta perceber que a crise que se vive hoje tem uma origem bem definida na dificuldade em providenciar à Economia os necessários fluxos de energia e matérias primas a preços baixos. A realização de tal facto obrigará a uma total transformação das políticas e planos económicos, de certa forma uma ruptura com a mentalidade do Crescimento constante.

E é assim que se justifica continuar a relatar o mundo a partir da perspectiva particular que providencia o pico do petróleo. Será talvez como subir a uma montanha onde o que está para a frente é posto em perspectiva pelo que está para trás. O mundo Visto do Pico.


New York Times Green Blog
Is ‘Peak Oil’ Behind Us?
By JOHN COLLINS RUDOLF
November 14, 2010, 8:47 am

Peak oil is not just here — it’s behind us already.

That’s the conclusion of the International Energy Agency, the Paris-based organization that provides energy analysis to 28 industrialized nations. According to a projection in the agency’s latest annual report, released last week, production of conventional crude oil — the black liquid stuff that rigs pump out of the ground — probably topped out for good in 2006, at about 70 million barrels a day. Production from currently producing oil fields will drop sharply in coming decades, the report suggests.

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